Cale-se. Mesmo que suas palavras sejam belas e eruditas, fique quieto. E me ouça. Ouça e sinta minha raiva, minha frustração, escuta tudo que eu queria dizer antes e não conseguia. Escuta minhas palavras e entenda que elas transbordam sentimento. E, deus me perdoe, não tente conter o que transborda. Não se dê o trabalho de se apegar a lógica, à semântica, à retórica, à hermenêutica. Não é pra fazer sentido, é pra ter sentimento. Não rebata com argumentos porque eu já passei do convencimento. Você já perdeu. Perdeu porque não me ouviu antes, não me deu palanque, não me deu plataforma, não me deu voz. Perdeu porque não estou só. Agora eu encontrei outros que foram calados, uma multidão de descontentes. Agora você vai ouvir. Você, figura de autoridade, homem-rico-político-cientista-erudito-branco-estudioso-historiador-apresentadordetv-famoso-artista-consagrado-socialdemocrata-jurista, suas qualificações não te botam fora do alcance do meu ressentimento. Toma esta bola de merda arremessada na sua carruagem, na sua roupa de gala, no seu rostinho bem cuidado, nos seus dentes perfeitos. Quer discurso mais eloquente que esse? Cheira a minha merda! Aceite.
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